Final de semana em Chepstow, Ontario: a viagenzinha perfeita para suportar mais um lockdown

No último final de semana antes do Premier de Ontario decretar a chamada stay-at-home order, eu já estava prevendo que as coisas iriam piorar durante o lockdown que estamos enfrentando desde o final de Dezembro de 2020.

Acordei no sábado, ainda sem planos do que faria naquele final de semana, já que estou limitando bastante meu contato com outras pessoas. Como vocês sabem, quem vive sozinho pode escolher uma família (ou alguém que também esteja sozinho) para manter contato e não enlouquecer (ainda mais) durante a pandemia.

Decidi que queria fazer um passeio de carro, e dirigir por alguma cidadezinha de até umas 2 horas de distância para explorar um pouquinho. Como estamos no inverno, sabia que pegaria paisagens incríveis pelo caminho, mas que não teria muita coisa para fazer na cidade escolhida, já que os comércios também estão fechados em decorrência do lockdown.

Diferentemente das outras vezes que fiz um bate-e-volta, naquele resolvi fazer algo diferente. Entrei na internet e comecei a pesquisar acomodações lá na região que eu queria visitar. Não estava interessado em me hospedar em hotéis, queria uma experiência mais local, dessas que vi muitas vezes nos filmes de Natal que são produzidos e exibidos 24 horas pelo canal Hallmark.

Não precisei pesquisar muito. Queria algo na região do Lake Huron, e rapidamente encontrei um lugar chamado Chepstow Inn que atendia exatamente às características que eu estava procurando: lugar tranquilo, charmoso, e que oferecia café da manhã. Sem muita expectativa de encontrar uma vaga, mandei um email dizendo que entendia que já estava em cima da hora, mas que eu gostaria de saber se ainda tinham vagas para aquela noite. A proprietária, Kym, me respondeu prontamente que sim, então na mesma hora coloquei umas peças de roupa numa mala de mão, e peguei a estrada.

Como o horário do check in era somente às 4 da tarde, decidi passar a tarde na cidade de Kincardine, que eu já estava doido para visitar novamente desde o verão, e assim que estivesse próximo do horário, eu iria para o Inn.

Eu achava que Kincardine estivesse mais próxima do lugar em que eu estava hospedado, e mesmo não sendo tão distante, ainda tive que percorrer aproximadamente 30km. Ali naquele momento já decidi que não voltaria para Kincardine no domingo, pois ficaria muito fora de mão para mim.

Como previsto, andei pela cidade até dar o horário da minha entrada no hotel. Dirigi até lá ficando cada vez mais surpreso do quanto ele era afastado de tudo. Do jeito que eu queria – uma cidadezinha no meio do nada.

Até aquele momento eu não fazia ideia de que Chepstown é uma comunidade com aproximadamente 100 famílias. Acredito que todo mundo deva se conhecer por nome, sobrenome e telefone. Cheguei no Inn, bati na porta, e a proprietária Kym já veio me receber, com a mesma simpatia que ela já havia demonstrado na nossa troca de emails. Fiz o pagamento da minha diária, e ela me levou até o andar de cima, onde ficava o meu quarto. Assim que ela abriu a porta, já notei que o lugar era exatamente como eu imaginava. A decoração era impecável, e eu já sabia que tinha feito uma excelente escolha.

Depois que me instalei, disse à Kym que eu iria dar uma volta. Pedi dicas do que fazer, e ela me indicou uma pizzaria em Walkerton, a qual eu aceitei prontamente. Perguntei para que lado ficava, e assim que ela me explicou, saí caminhando no sentido indicado. Para minha santa inocência, ela me chamou e disse que só era possível ir de carro. Mesmo assim fui dar uma volta por Chepstow, o que me levou cerca de 5 minutos para perceber que não havia mais nada para ver por ali. Voltei para o carro e fui procurar a tal Walkerton.

A cidade ficava a 13km do hotel. Pelo caminho somente fazendas e mais fazendas, além de muita neve, o que, obviamente, tornava impossível eu chegar lá na caminhada. Fui admirando as paisagens, seguindo as direções do GPS e logo cheguei na cidade. Estacionei o carro e fui caminhar. Como já era mais de 5 da tarde, logo começou a escurecer, então não dava mais para ficar caminhando por ali. Estava frio, e eu já estava ficando com fome. Fui até o estacionamento da pizzaria que a Kym havia me recomendado, e liguei para pedir a minha pizza. Inocente outra vez, nem me liguei que aquela deveria ser a única pizzaria da cidade, mas entendi isso quando a atendente me informou que minha pizza ficaria pronta em 1 hora e 10 minutos.

Para minha sorte, do outro lado da rua em que ficava a Pizzaria The Old Garage, tinha um Tim Horton´s, então fui lá pegar um chá para me manter aquecido enquanto eu esperava pela pizza dentro do carro.

Assim que deu o horário, entrei, peguei a pizza e parti em direção ao Inn. Quando a Kym me recebeu na porta, ela ficou feliz ao ver que eu havia encontrado a pizzaria, e me perguntou se eu queria aquecê-la no forno, mas eu agradeci e disse que não era preciso. Ela me deu um prato e guardanapos de papel, e nos despedimos.

Ah, não posso me esquecer de dizer que a Kym me ofereceu uma cerveja também, e claro que eu acabei aceitando. Liguei a TV e fiquei assistindo a maratona de Friends que estava passando naquele final de semana.

Na manhã seguinte, eu era o único hóspede que tinha fechado o pacote com café da manhã. Combinei com a Kym de descer às 9am, e ela já havia preparado a mesa para mim. Dava para ver que tudo tinha sido feito com muito cuidado. Estava uma delícia. Ela sentou-se comigo enquanto eu comia e conversamos sobre o meu trabalho em Hamilton, e também sobre o hotel. Segundo ela, aquele hotel tinha sido construído em 1869, mas que ela havia adquirido há 7 anos, e vem fazendo renovações com o tempo. Disse que durante o verão ele é super requisitado aos finais de semana, pelas pessoas que querem curtir a Sauble Beach, ou que estão em direção à Tobermory. Me aconselhou a voltar no verão, mas para fugir das multidões, para eu reservar durante os dias da semana.

Assim que terminei o café da manhã, fui novamente para Walkerton. A cidadezinha, também minúscula é cortada pelo Saugeen River, que desemboca no Lake Huron.

Como era domingo de manhã, num dia de inverno, no meio de um lockdown, não havia ninguém andando pela cidade. Parecia que eu estava em um cenário de filme, fora do horário das gravações. Fui fazer uma trilha que fica à margem do rio, mas ela estava coberta de gelo, e meu calçado não era apropriado para andar naquele tipo de superfície. Voltei para o carro e dirigi até a próxima cidade chamada, Hanover, que também tinha exatamente as mesmas características da cidade anterior. Desejei estar lá em uma outra época do ano, e fora da pandemia, obviamente. Tenho certeza que o clima de interior durante o verão será exatamente do jeito que eu gosto. Quero muito ter a oportunidade de vivenciar isso.

Voltei para o Chepstow Inn para pegar as minhas coisas e me despedir da Kym. Quando deixei o meu quarto ví que no corredor ela tinha um mapa do mundo, e as pessoas colocavam aquele alfinete para representar o seu lugar de origem. O Brasil estava lá, solitário, sem nenhum alfinete, e eu tive o prazer de colocar o primeiro. Pena que não tirei uma foto para postar por aqui, mas se vocês entrarem no site do hotel, verão o mapa antes da minha chegada.

Bom, o post ficou enorme, mas eu precisava deixar registrado por aqui o quanto esse final de semana foi importante, não apenas porque tive a oportunidade de vivenciar um desses hotéis administrados por locais, mas porque logo na semana seguinte as restrições da pandemia me forçaram a ficar em casa praticamente sem contato com o mundo exterior. Assim que possível, recomendo demais que vocês também façam uma experiência como essa. Sei que hoje existem muitas opções de hospedagem por conta do AirBnB, mas se tiverem interesse em conhecer um hotelzinho bacana, com atendimento impecável, recomendo que façam uma visita ao Chepstow Inn. Voltarei lá com toda certeza!!!

Um abraço a todos, e até a próxima!!!!

2 comentários

  1. Fantástico, Reinaldo!
    Que belo lugar para ficar. Adorei os tons exteriores da casa e o interior é mesmo “cozy” (utilizando o termo em inglês). 😛
    Adorei todo o seu relato destes dias.
    Muito agradável de ver/ler.
    Grande abraço!

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